Quinta-feira, 21 de Novembro de 2024
Mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia serão liberados em fevereiro em mais 14 bairros da zona norte do Rio de Janeiro, em nova etapa de experimento coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O objetivo é o cruzamento com insetos infectados com os que estão na natureza, substituindo a população original.
A bactéria não faz mal ao organismo humano e tem a capacidade de bloquear o ciclo da zika, da dengue e da chikungunya no mosquito Aedes, responsável pela transmissão para o ser humano. Com a substituição, a tendência é a queda na incidência das doenças. Ainda não é possível afirmar que a bactéria pode impedir também o ciclo do vírus da febre amarela que circula no Brasil.
O projeto da Fiocruz Eliminar a Dengue: Desafio Brasil está de olho no possível aumento de casos das doenças nos meses mais quentes e chuvosos do verão, conforme alertou a Secretaria Estadual de Saúde. Recentemente, o subsecretário de Vigilância em Saúde do Estado do Rio, Alexandre Chieppe disse que é chegado o período de maior risco de transmissão.
Na primeira etapa, em agosto de 2015, foram soltos mais de 3 milhões de mosquitos com Wolbachia em Tubiacanga, na Ilha do Governador, na zona norte, e em Jurujuba, em Niterói, na região metropolitana. As áreas foram escolhidas por fatores científicos e, não endêmicos. Ambas são pequenas vilas de pescadores próximas ao mar.
O coordenador da pesquisa, o infectologista Luciano Moreira, informou que os mosquitos com a bactéria já procriaram nas regiões, dando origem a uma nova população de insetos com a Wolbachia. Segundo ele, sso foi possível porque, no cruzamento, a fêmea transmite a bactéria às larvas. Não há mutação genética. “Visitamos as mesmas áreas e percebemos que, passados 18 meses, 100% dos mosquitos têm a bactéria.” O monitoramento ocorre por meio de visitas regulares a 900 casas cadastradas.
Os mosquitos com a bactéria Wolbachia são criados no insetário da Fiocruz, na zona norte, e a liberação deles ocorre semanal ou quinzenalmente, dez vezes, em pontos pré-estabelecidos. A técnica é uma das principais apostas para diminuir as infecções e foi descoberta na Austrália.
O médico Rivaldo Venâncio, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, especialista em arboviroses, destacou que, no momento, é o método mais moderno e inovador para combater as doenças mencionadas. “Estávamos combatendo a dengue, em 2017, com fumacê, larvicida, como na época de Oswaldo Cruz. Mas o país mudou”, disse.
O médico, que também é professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, afirmou que ainda é cedo para descartar nova onda de casos das doenças, principalmente de zika e de chikungunya, uma vez que os vírus encontraram a população sem imunidade, por nunca ter circulado em todo o país.
Os próximos bairros a receberem mosquitos com Wolbachia, no Rio, são Bonsucesso, Brás de Pina, Complexo do Alemão, Manguinhos, Olaria, Penha, Penha Circular, Ramos, Colégio, além de Irajá, Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Vila Kosmos e Vista Alegre. As localidades foram escolhidas de acordo com as características socioambientais e populacionais.
No fim do ano passado, os especialistas soltaram Aedes infectados com a bactéria na Ilha do Governador, na Cidade Universitária e nas regiões do Galeão, Jardim Carioca, Jardim Guanabara e Portuguesa e 13 bairros de Niterói, cobrindo toda a Região Oceânica e Charitas. Em 2018, há previsão de liberar os mosquitos com Wolbachia no centro do Rio, nos bairros da zona sul e na favela da Rocinha.